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Cannabis medicinal apresenta avanço na medicina de precisão

A medicina de precisão — ou conhecida também como medicina personalizada — é um modelo que busca oferecer terapias adaptadas às características de cada pessoa. Em 2022, pesquisadores da área afirmaram que ela irá acontecer "em um futuro não tão distante", no qual o cuidado centrado no paciente será o norte de todos os tratamentos de saúde.

Neste contexto, a Cannabis medicinal tem sido objeto de estudos científicos e análises clínicas que apontam para sua viabilidade como uma alternativa terapêutica individualizada, sobretudo em casos refratários às abordagens convencionais, como confirma o "Mapa de Evidências sobre a Efetividade da Cannabis Medicinal", artigo e site que apresenta uma seleção de 194 estudos de revisão sobre o uso da Cannabis em todo o mundo.

De acordo com a médica Ana Elisa de Queiroz Crepaldi (CRM MG 33815), a principal diferença está no paradigma de abordagem. "A medicina convencional se baseia em protocolos construídos a partir de médias populacionais e tende a aplicar tratamentos padronizados a grupos amplos de pacientes com o mesmo diagnóstico. Já a medicina de precisão parte do pressuposto de que cada indivíduo possui características genéticas, bioquímicas e ambientais únicas que impactam diretamente sua forma de adoecer e de responder aos tratamentos", explica a profissional.

O modelo da medicina de precisão, ainda segundo a médica, favorece não apenas a eficácia terapêutica, como também a mitigação de efeitos adversos e o aprimoramento da prevenção. Nesse escopo, os fitocanabinoides, moléculas da Cannabis que são utilizadas com fins medicinais, como o Tetrahidrocanabinol (THC) e o Canabidiol (CBD), atuam sobre o Sistema Endocanabinoide (SEC). Este sistema, também conhecido como SEC, é uma rede fisiológica envolvida na regulação de processos como dor, sono, humor e inflamação.

"A Cannabis medicinal, por sua complexidade farmacológica e ampla atuação sobre o Sistema Endocanabinoide, se insere de forma natural no contexto da medicina de precisão", avalia a Dra. Crepaldi.

Neste sentido, estudos apontam que variações na expressão do SEC entre diferentes indivíduos requerem ajustes clínicos personalizados, o que reforça a necessidade de acompanhamento médico qualificado na prescrição de derivados da Cannabis — como a medicina de precisão.

"A medicina de precisão representa uma evolução ao integrar ciência, tecnologia e análise clínica para oferecer tratamentos personalizados. E o uso de fitocanabinoides se integra neste escopo por atuar em um sistema fisiológico altamente individualizado, como o Sistema Endocanabinoide", afirma Ana Gabriela Baptista, P&D&I de produtos de Cannabis para fins medicinais e CEO da TegraPharma.

Segundo a profissional, a crescente atenção à personalização das terapias médicas tem colocado a Cannabis medicinal no centro de debates clínicos e científicos. E, sendo assim, Ana Gabriela salienta que compreender o paciente de forma integral é essencial para definir intervenções mais assertivas e seguras.

"A individualização do tratamento passa por compreender a totalidade do paciente. A Cannabis medicinal tem contribuído para protocolos clínicos baseados em evidências, com perfil de segurança monitorado pela ciência", complementa Ana Gabriela.

Brasil atualmente tem 672 mil pacientes de Cannabis medicinal

Dados do Anuário da Cannabis Medicinal no Brasil, produzido pela consultoria Kaya Mind, indicam que mais de 672 mil brasileiros fazem uso regular de terapias com derivados da Cannabis.

Este número tem crescido desde a vigência da RDC n.º 660/2022, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que regulamenta a importação de produtos à base de Cannabis mediante prescrição médica.

"A medicina de precisão oferece ferramentas fundamentais para orientar a escolha da formulação, a proporção entre THC e CBD, a via de administração e a posologia mais adequada para cada paciente, com base em seu perfil genético, metabólico e clínico", destaca a Dra. Crepaldi.

A despeito do protagonismo da genética na medicina de precisão, tanto a Dra. Crepaldi como Ana Gabriela ressaltam a importância de uma conduta clínica que observe, de uma forma próxima à resposta terapêutica em tempo real, o comportamento do paciente e demais fatores não codificados. Segundo as profissionais, a atuação científica e ética têm desempenhado papel relevante nesse processo, promovendo capacitação técnica para prescritores de Cannabis medicinal, apoio multidisciplinar às famílias e conformidade com a regulação sanitária vigente.

Igualmente, pesquisas em andamento, como as realizadas em centros paulistas, buscam identificar biomarcadores genéticos e bioquímicos que possam prever a eficácia dos fitocanabinoides em diferentes perfis de pacientes.

Cannabis medicinal aliada à medicina de precisão

Portanto, a incorporação da Cannabis medicinal à medicina de precisão desponta, segundo as pesquisadoras, como uma tendência capaz de redefinir protocolos de cuidado, especialmente em casos complexos ou resistentes às terapias tradicionais. Amparada por um corpo crescente de evidências científicas, essa abordagem busca ajustar formulações, dosagens e vias de administração às características únicas de cada paciente, ampliando a eficácia e reduzindo riscos. O avanço é impulsionado tanto por regulamentações que ampliam o acesso quanto por pesquisas que exploram o potencial dos fitocanabinoides no Sistema Endocanabinoide.

Mais do que uma alternativa terapêutica, a Cannabis medicinal, integrada à lógica da medicina de precisão, simboliza uma mudança de paradigma no tratamento de doenças: o foco deixa de ser exclusivamente a patologia e passa a ser o indivíduo em sua totalidade. "Esta sinergia em prol da saúde, sustentada por ciência e ética, vem moldando um futuro em que tecnologia e acompanhamento próximo se unem para oferecer soluções mais humanas, assertivas e seguras nos cuidados médicos", finaliza Ana Gabriela.