DestaqueSAUDE

No Norte, 29% dos médicos relatam sintomas de ansiedade, aponta pesquisa da Afya

Com rotinas de trabalho que podem ultrapassar 70 horas semanais e uma pressão constante pela excelência em toda jornada, médicos enfrentam condições que favorecem o esgotamento emocional. Nova pesquisa Qualidade de Vida do Médico, realizada pelo Research & Innovation Center da Afya, maior ecossistema de educação e tecnologia em medicina no Brasil, mostra que cerca de 45% desses profissionais apresentam algum quadro de doença mental. No Norte, quase um terço dos médicos relata sintomas de ansiedade sem acompanhamento (29%), evidenciando um risco elevado de subtratamento. A região também se destaca com 36% dos profissionais relatando sintomas de bournout.

A prática regular de atividade física reconhecida como um fator protetivo para sintomas de doenças psíquicas, tem desempenho mais baixo no Norte, 33%. Regiões com menor adesão à atividade física também coincidem com maiores índices de automedicação, sugerindo que a ausência de práticas preventivas pode estar sendo compensada por estratégias individuais de manejo da saúde mental. Conforme a pesquisa o Norte apresenta os maiores índices de automedicação, 42%.

Para dar visibilidade a esse tema tão relevante e criar um espaço de acolhimento, neste Setembro Amarelo, a Afya lança a campanha “Bora se Cuidar”, que aposta na leveza para tratar da saúde mental e se propõe a ser um porto seguro não só para médicos, mas também para os estudantes, que enfrentam uma carga horária acima da média de outros cursos. A Afya está presente no Amazonas com unidades de graduação nos municipios de Manacapuru e Itacoatira, além de oferer cursos de pós-graduação em Manaus.


A campanha conta com um vídeo protagonizado pelo influenciador médico Ricardo Kores, que traz a proposta “do riso à reflexão”. Além disso, há conteúdos de outros profissionais, podcasts e uma landing page exclusiva, que reúne diferentes formatos de apoio, como chat de ajuda, cartilha de autocuidado e calendário de eventos, permitindo que cada pessoa escolha o conteúdo que melhor se encaixa em seu momento.
“A formação médica exige dedicação integral, o que, somado à cobrança por excelência e à dificuldade de reservar tempo para si, pode favorecer o esgotamento emocional. A Afya quer tornar essa jornada menos solitária e mais sustentável do ponto de vista emocional. O cuidado precisa começar ainda na base, durante a graduação, e se estender por toda a trajetória da Medicina”, destaca Stella Brant, vice-presidente de Marketing e Sustentabilidade da Afya.

Burnout, ansiedade e depressão

Em comparação com o ano anterior, o estudo Qualidade de Vida do Médico aponta um aumento de 13% no número de profissionais que relatam algum quadro de doença mental, um retorno ao patamar observado no período pós pandemia.

O recorte de gênero também chama atenção: 51,8% das médicas foram diagnosticadas com algum transtorno em 2025, frente a 46,8% no ano anterior. “O aumento geral desses números pode estar relacionado à maior conscientização sobre saúde mental, que tem levado mais médicos a reconhecer sintomas, buscar apoio especializado e obter diagnósticos adequados”, explica o médico Eduardo Moura, que está à frente do Research & Innovation Center da Afya.

O estudo também aponta que 1 a cada 2 médicos (58,2%) já vivenciaram algum grau de esgotamento relacionado ao trabalho, enquanto 4 em cada 10 convivem com um diagnóstico de transtorno de ansiedade. Apenas 24,7% dos respondentes afirmam nunca ter apresentado sintomas de ansiedade — o que significa que mais de 75% já vivenciaram algum grau de sofrimento ansioso ao longo da vida.

A pesquisa também busca avaliar o número de diagnósticos de depressão entre médicos e médicas e se há tratamento e acompanhamento com um especialista.
No caso específico da depressão, apenas 36,1% nunca apresentaram sintomas — ou seja, quase dois terços da amostra já vivenciaram, em algum grau, experiências depressivas. Além disso, 22,6% já foram diagnosticados em algum momento e atualmente não convivem com a condição. Hoje, 41,3% manifestam sintomas de depressão, sendo 25,7% diagnosticados formalmente com a condição. Ainda assim, parte desse grupo não realiza acompanhamento com especialista.
As mulheres relatam a condição com mais frequência em todas as etapas do ciclo da doença. Elas são maioria tanto entre aquelas que têm diagnóstico atual e fazem acompanhamento (25,1%, contra 18,2% dos homens) quanto entre as que já foram diagnosticadas (24,6% contra 20%).

“Os números mostram que o sofrimento emocional dos médicos não é pontual, é estrutural. Altos índices de ansiedade, burnout e depressão, somados às desigualdades de gênero, revelam a urgência de reposicionar o cuidado com quem cuida como prioridade estratégica. Isso exige políticas contínuas, integradas e sensíveis às realidades da profissão. Mais do que estatísticas, os dados escancaram urgências humanas que o país não pode mais ignorar”, afirma Moura.
A pesquisa foi realizada pelo Research & Innovation Center da Afya entre os dias 29 de janeiro e 1º de abril de 2025, com uma amostra de 2.147 médicos brasileiros. O estudo buscou compreender aspectos relacionados à saúde mental, qualidade de vida e hábitos de autocuidado entre profissionais da medicina.

Compromisso de longo prazo

O cuidado com a saúde mental de médicos e estudantes de medicina é uma causa da Afya. Em 2023, a empresa lançou, na sede da ONU, em Nova Iorque, este compromisso com o bem-estar de médicos e estudantes, durante o evento SDGs in Brazil, do Pacto Global da ONU. No ano seguinte, foi reconhecida com o Prêmio Nise da Silveira de Boas Práticas e Inclusão em Saúde Mental, concedido pela Câmara dos Deputados.

Em 2024, a campanha “Está tudo bem?” trouxe o debate sobre o estigma que impede médicos de procurar ajuda. Este ano, o objetivo é incluir também os estudantes na conversa, reforçando a importância de cuidar da saúde emocional desde a graduação.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *